terça-feira, 25 de julho de 2017



A Vida é escrita...

 
A arte de escrever brota da necessidade de idealizar um objetivo informacional categórico, da oportunidade de tomar o controle imaginário da vida e criar um universo personalizado, onde todas as criaturas têm o formato que mais apraz, a cor predileta e as atitudes que estão latentes no ínterim do leitor.
Nesse mundo “perfeito” inventado na mente do “arquiteto das letras”, todos os anseios do povo são atendidos: a única fome que há é a de sabedoria; a sede existente de aventuras é saciada pelas viagens feitas com a imaginação e todo final feliz é construído de forma gradativa, inesperada e surpreendente.
Que atire o primeiro rascunho de papel embrulhado aquele que nunca “torceu” pelo sucesso do herói de uma estória envolvente, ou mesmo verteu aquela lágrima ao emocionar-se com a situação triste, vivenciada pela protagonista de um drama, por mais que saibamos que tudo aquilo não passe de uma obra fictícia…
Deixar de reverenciar aquele que elabora todas as tramas é não conhecer a magia encantadora e poderosa que existe na ponta de uma caneta, bem como negar a sua influência benéfica e eficaz em nossas vidas!
Parabéns, escritores, por este dia!
Reinaldo Sá

quarta-feira, 15 de março de 2017




Palavras

Lembro-me bem das brincadeiras,
Da infância, dos tempos de criança,
E, da primeira leitura, veio a esperança
Que, avidamente, tornou-se a derradeira
Atitude do agora homem – brincar com palavras…

Brincando de jogar dados, torcendo para o “6” ser um sim
Divertindo, aprendendo a arte de ser gente
E o “Fura-pé”, esburacando todo o jardim
Aproveitado para germinar em mim a semente
Atitude do maduro homem – trabalhar com palavras…

Das bolinhas de gude, o reflexo da luz que inebriava
Despertava a ter sempre mais uma em minha constelação
Tudo permitido pela criativa imaginação
Aceitando e aprendendo situações que vivenciava
Atitude do saudoso homem – viajar com palavras…

Quem não guardou em si um pouco da juventude
Desperdiçou grande oportunidade
De aproveitar cada fase, cada frase, cada texto, cada idade
Cada exercício de humildade, de solicitude...
Ah... dessas atitudes que mais me dão saudade:
De brincar, trabalhar, viajar e de viver: palavras

quinta-feira, 5 de maio de 2016

DE OLHOS FECHADOS



De olhos fechados
Viajo a outro universo
Não me sinto trancado
E sim, livre, disperso

Navego calmamente
em seu corpo - mar bravio
onde posso, gradativamente
agitar-me por horas a fio
Concessão evidente
Ao sentir meu toque macio,
 Meu calor envolvente
E o seu corpo febril
Agora, contente
derrete-se, mas arredio!
Voltando a ficar quente
preenchendo um vazio
no coração da gente

E, de olhos fechados
Visito o teu mundo
Ainda que esse estado
Dure apenas um segundo
Tempo mais que necessário
Para ir mais fundo
E, em outra esfera,
Viajar solidário
Sentindo o que mais se espera:
um "Amor literário".

segunda-feira, 4 de abril de 2016

E o dia nasceu feliz…


E o dia nasceu feliz… 

Pro dia nascer feliz
Não precisava muito o que fazer
Bastava cantar, amar, renascer
Ver a semente germinar
No ventre crescer, frutificar
Eternizar cada segundo olhar
Encontrar na memória o cheiro da flor
Quando nem sabia o que deixara de ser
Pois, comigo, todas as lembranças têm lugar!
No “caixa-forte” das emoções
O tempo se esvai – é o que se diz
E o que importa mesmo é viver feliz
Quando o que mais se quer é amar

Pro dia nascer feliz
Não importa filtrar, reter a impureza
Pois um coração aprendiz
Elege o amor como gesto de beleza 
E quando o meu dia nascer feliz
Brincarei tal eterna criança
Que, no auge da inocência
Busca a sua independência
E na ternura, uma esperança
Quem na vida, nunca quis
viver e não ter a vergonha de ser feliz?

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

*DISCURSO SEM VERBOS*

AINDA QUE pareça incrível, eis um artigo em que não se encontra um único verbo. Transcrevemos essa obra prima de redação, traduzida de um artigo publicado em “LE PETIT JOURNAL”, da França, no ano de 1897:
“VERBOS! Coisa intolerável da convenção antiga e ridícula para o atulhamento da frase, geralmente viva, leve e clara, sem eles! Invenção antipática e com a complicação de acordos e não-acordos de particípios; armadilha, aliás, pérfida para os exames de gramática. Por que não a supressão do verbo antes da reforma da ortografia? Além disso, que lição maravilhosa para nós a ausência deles num grande número de adágios da sabedoria humana! Exemplo: “Pequenas causas, grandes efeitos” etc. Que facilidade de trabalho, para as memórias rebeldes, nessa concisão de forma! Nenhuma palavra em excesso; nada de fútil, de embaraçoso; a essência concentrada da frase, com quatro ou cinco palavras: o “Liebig” o pensamento! Sim, o verbo eis o inimigo! Guerra contra ele! Morte aos indicativos, aos subjuntivos, aos imperativos, aos infinitivos, enfim, a tudo em “ivo” e, principalmente, ao terrível mais que perfeito do subjuntivo, triunfo dos belos falastrões do Sul, desde Avinhão até Caracole. Em lugar das odes na Academia, na Comédia Francesa, na inauguração da ponte Alexandre III, por que não um simples cumprimento, sem verbo, ao tsar e à tsaritisa? Novidade apreciável, certamente, para tais festas, notáveis pelas surpresas, pela decoração das ruas, pelo engrinaldamento das fachadas, pela floração artificial das árvores sem folhas, na praça central dos Campos Elíseos. Uma saudação sem verbo, ao tsar, que maravilhosa resposta à invasão desta estranha literatura do Norte, mas arrogante de seus sucessos ibsenianos entre nós e de sua influência fantástica nos costumes do nosso teatro! Que desafio ao mundo intelectual dos outros países! Que assombro no universo inteiro: a supressão do verbo na literatura da França! Coragem e confiança no progresso! Esperança, sobretudo, da mudança completa das regras gramaticais. E qual melhor surpresa, para a inauguração da Exposição mundial de 1900, que a ausência total do verbo – mesmo do mais útil na aparência – nos votos de boa vinda do Presidente da República da época – (sem dúvida o mesmo de hoje) – aos seus imperiais visitantes: Nicolau II, o xá da Pérsia e Menelik, os três bons amigos da França!”
(ESPÍNDOLA, Itamar de Santiago. No Mundo das Excentricidades)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Saudade


Estou com saudades de você...
Estou com saudades da gente
Sinto no peito não sei mais o quê,
Tudo agora, de repente!

E o sentimento saudoso

Que até do arroz lembro bem
Não estaria mais gostoso
Se não fosse feito por Meu Bem

Eis-me aqui, formando palavras

Em cada letra, uma lembrança
Como um bom arador que lavras,
A terra que te traz esperança

É duro ficar tão distante

Do calor da pessoa amada
É triste o amor dos amantes
Que por caminhos nunca andantes
Desafia o Inferno de Dante
Pela lembrança do beijo da pessoa sempre amada.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Para que a necessidade do verbo???




Estudo de Caso: Gramática X Verbo
Peças pregadas pela língua portuguesa com uma pequena ajuda e conivência da gramática, a senhora feudal da linguagem, seduzida por um momento de flerte intencional do verbo, esse romântico “Don Juan”, ora regular, ora infinitivo – mas sempre reflexivo.
Versão da Gramática
Num certo momento de inspiração, onde maravilhosas e ortográficas ondas de calor hermenêutico e sedução silábica proveniente do réu, invadida por promessas de desejo onomatopaico e paixão lingüística, incendiadas pelas chamas da comunicação direta (ativa e passiva), saídas do ventre vertiginoso das letras, surgida na alma da criatividade, com todas as segundas intenções possíveis, imagináveis e totalmente realizadas da parte do réu.
Após as ilusões provenientes da possibilidade certa de uma produção literária independente, vociferada pela oportunidade de uma união consentida e consumada diversas e diversas vezes, com introduções sobre assuntos profundos, discutidos até a exaustão, e agora, sem ao menos, o auxílio deste verbo defectivo, irregular e anômalo!
Versão do Verbo:
No princípio dos tempos, apenas eu: simples, sucinto, sem adjuntos, locuções ou concordâncias. Autêntica vida de solteiro. Festas, saraus, comemorações com bastante apoio da linguagem, em todas as conjecturas.
Seduzido pelas formas voluptuosas, sinuosas e generosas da Gramática – irresistível, palatável e apetecível.
Decerto também ilusão sofrida! Imaginada todas as tentativas de convívio com a autora do processo, porém, oportunidades perdidas e, após um relacionamento diferenciado com o aposto verbo, agora mudo, calado completamente pelas circunstâncias descritas acima, como única opção, separação!